Infertilidade
Dr. Daniel Coelho
Cirurgião do aparelho digestivo
CRM-RN: 15270
RQE: 22897
Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD)
Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM)
International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders (IFSO) member
Existe tratamento cirúrgico para infertilidade?
Infertilidade
A infertilidade é definida como a incapacidade de um casal conceber após um ano ou mais de relações sexuais regulares e desprotegidas sem o uso de métodos contraceptivos. Essa condição afeta tanto homens quanto mulheres e pode ter diversas causas.
A infertilidade pode ser classificada em dois tipos:
Infertilidade primária: Refere-se a casais que nunca conseguiram conceber um filho.
Infertilidade secundária: Refere-se a casais que já tiveram pelo menos uma gravidez anteriormente, mas não conseguem conceber novamente.
Existem várias causas possíveis para a infertilidade, incluindo problemas relacionados à saúde reprodutiva masculina e feminina. Alguns dos fatores que podem contribuir para a infertilidade incluem:
Disfunção ovulatória ou problemas na liberação de óvulos.
Anormalidades uterinas, como miomas uterinos, pólipos ou aderências.
Obstrução ou danos nas trompas de falópio.
Endometriose, uma condição em que o tecido que normalmente reveste o útero cresce fora do útero.
Problemas de qualidade ou quantidade de esperma.
Disfunção hormonal.
Idade avançada, que está associada a uma diminuição da reserva ovariana e à diminuição da fertilidade.
O diagnóstico da infertilidade geralmente envolve avaliação médica detalhada, histórico clínico, exames físicos e uma variedade de exames laboratoriais e de imagem. O tratamento da infertilidade varia dependendo da causa subjacente e pode incluir intervenções médicas, cirúrgicas ou técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro (FIV) ou inseminação artificial.
É importante ressaltar que a infertilidade pode ser um desafio emocional e psicológico significativo para casais que estão tentando conceber. É recomendado que os casais procurem apoio e orientação de profissionais de saúde especializados em infertilidade para obter informações precisas, suporte emocional e orientação sobre as opções de tratamento disponíveis.
O tratamento cirúrgico da infertilidade é uma opção para casais que apresentam problemas específicos que podem ser corrigidos por meio de intervenção cirúrgica. Existem várias condições que podem afetar a fertilidade e requerer tratamento cirúrgico. Abaixo estão algumas das principais cirurgias realizadas no contexto da infertilidade:
Laparoscopia: A laparoscopia é uma técnica cirúrgica minimamente invasiva que envolve a inserção de um pequeno instrumento chamado laparoscópio através de pequenas incisões no abdômen. Ela pode ser usada para diagnosticar e tratar várias condições relacionadas à infertilidade, como endometriose, cistos ovarianos, aderências pélvicas, distorções tubárias, entre outras.
Histeroscopia: A histeroscopia é outra técnica minimamente invasiva que envolve a inserção de um instrumento chamado histeroscópio através do colo do útero para visualizar a cavidade uterina. Ela pode ser usada para corrigir anormalidades uterinas, como pólipos, miomas submucosos, septos uterinos ou aderências intrauterinas.
Cirurgia de reversão de laqueadura tubária: Mulheres que se submeteram anteriormente a uma laqueadura tubária para contracepção podem optar pela cirurgia de reversão para restaurar a permeabilidade das trompas de falópio e permitir que o esperma alcance o óvulo, aumentando as chances de concepção.
Cirurgia de remoção de miomas uterinos: Miomas uterinos são tumores benignos que podem interferir na fertilidade, especialmente quando estão localizados na cavidade uterina ou afetam a estrutura normal do útero. A remoção cirúrgica dos miomas pode melhorar a fertilidade em alguns casos.
Cirurgia para correção de obstrução tubária: A obstrução tubária, causada por condições como doença inflamatória pélvica, endometriose, aderências pélvicas ou histórico de cirurgias abdominais, pode dificultar a passagem do óvulo fertilizado pelas trompas de falópio. A cirurgia pode ser realizada para remover ou reparar a obstrução tubária e melhorar a chance de concepção.
É importante destacar que nem todos os casos de infertilidade requerem tratamento cirúrgico. O tratamento cirúrgico é individualizado e baseado nas causas específicas da infertilidade identificadas durante a avaliação médica. Em alguns casos, a cirurgia pode ser combinada com outras abordagens de tratamento, como medicamentos para estimulação ovariana ou técnicas de reprodução assistida, dependendo das circunstâncias individuais.
É fundamental consultar um médico especialista em infertilidade para uma avaliação adequada e para determinar a necessidade e a adequação do tratamento cirúrgico no seu caso específico.
A obesidade e a infertilidade:
A associação entre obesidade e infertilidade tem sido amplamente estudada e documentada. A obesidade pode afetar tanto a fertilidade masculina quanto a feminina, e pode ter várias consequências negativas para o processo reprodutivo.
Na mulher, a obesidade pode levar a distúrbios ovulatórios, como anovulação (ausência de ovulação) ou oligoovulação (ovulação irregular). Isso ocorre devido a alterações hormonais relacionadas ao excesso de gordura corporal, incluindo o aumento dos níveis de estrogênio, resistência à insulina e desregulação do eixo hormonal hipotálamo-hipófise-ovariano. Essas alterações podem interferir no desenvolvimento adequado dos folículos ovarianos e na liberação de óvulos, reduzindo assim as chances de gravidez.
Além disso, a obesidade está associada a um maior risco de desenvolvimento de distúrbios como síndrome dos ovários policísticos (SOP), que pode afetar negativamente a fertilidade. A SOP é caracterizada por desequilíbrios hormonais, ciclos menstruais irregulares, presença de múltiplos cistos ovarianos e resistência à insulina.
No homem, a obesidade também pode afetar negativamente a fertilidade. A obesidade está associada a alterações nos níveis hormonais, incluindo redução da testosterona e aumento dos níveis de estrogênio. Isso pode levar a uma diminuição na produção e qualidade dos espermatozoides, resultando em uma redução da fertilidade. Além disso, a obesidade também pode estar associada a distúrbios como disfunção erétil e alterações na motilidade dos espermatozoides.
Além dos efeitos diretos na função reprodutiva, a obesidade também pode afetar a resposta a tratamentos de reprodução assistida, como a fertilização in vitro (FIV). Pacientes obesos podem ter menor taxa de sucesso na FIV, incluindo menor taxa de gravidez e taxas mais altas de aborto.
É importante ressaltar que a perda de peso pode melhorar significativamente a fertilidade em indivíduos obesos. Estudos mostraram que a perda de peso em mulheres obesas com SOP pode resultar na restauração da ovulação e na melhora das chances de concepção. Da mesma forma, em homens obesos, a perda de peso pode levar a melhorias nos parâmetros do sêmen e na fertilidade.
Portanto, a obesidade é um fator importante a ser considerado na avaliação de casais com dificuldade para conceber. A adoção de um estilo de vida saudável, incluindo uma dieta equilibrada e atividade física regular, pode desempenhar um papel crucial na melhoria da fertilidade e no sucesso dos tratamentos de reprodução assistida.
Exames que podem ser necessários na avaliação de infertilidade:
Ultrassonografia abdominal total
Ultrassonografia pélvica transvaginal
Histerossalpingografia
Histeroscopia
Tomografia computadorizada
Laparoscopia diagnóstica e terapêutica
Avalição com companheiro com espermograma
Testes genéticos
Conclusões:
O tratamento para infertilidade evoluiu significativamente nos últimos anos, e as técnicas de reprodução assistida têm proporcionado altas taxas de sucesso na realização do sonho da gravidez. Os especialistas em infertilidade são os profissionais indicados para avaliar cada caso individualmente e recomendar o tratamento mais adequado, levando em consideração a causa da infertilidade.
Embora não seja responsável pela avaliação primária e geralmente não faça parte das equipes de tratamento de infertilidade, o cirurgião do aparelho digestivo pode desempenhar um papel relevante no contexto da infertilidade. Especificamente, ao tratar efetivamente a obesidade mórbida por meio de cirurgia metabólica e possuir conhecimento avançado em técnicas laparoscópicas, esses profissionais podem contribuir para o diagnóstico e tratamento de causas metabólicas e anatômicas da infertilidade.
É importante ressaltar que a avaliação e o tratamento da infertilidade devem ser realizados por uma equipe multidisciplinar composta por especialistas em reprodução humana, ginecologistas, urologistas e outros profissionais de saúde especializados na área. A colaboração entre diferentes especialidades é fundamental para oferecer o melhor cuidado aos casais que enfrentam problemas de infertilidade.
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